A ESCOLA DE MILETO E A BUSCA DA ARQUÉ
Tales de Mileto (625-558 a.C.)
Tales foi comerciante de sal e de
azeite de oliva, e enriqueceu como proprietário de prensas de azeitona durante
uma safra promissora. Sabe-se que Tales previu um eclipse ocorrido em 585 a.C. De suas idéias quase
nada é conhecido. Aristóteles o chama de fundador da filosofia, e lembra que a
sua doutrina baseia-se na água como o elemento primordial de todas as coisas
(physis, fonte originária, gênese), e que para suportar as transformações e
permanecer inalterada, a água deveria ser um elemento eterno.
Atribui-se a Tales a afirmação de que "todas as
coisas estão cheias de deuses", o que talvez pode ser associado à idéia de
que o imã tem vida, porque move o ferro. Essa afirmação representa não um
retorno a concepções míticas, mas simplesmente a idéia de que o universo é
dotado de animação, de que a matéria é viva (hilozoísmo). Além disso, elaborou
uma teoria para explicar as inundações do Nilo, e atribui-se a Tales a solução
de diversos problemas geométricos (exemplo: teorema de Pitágoras).
Tales foi um dos filósofos que acreditava
que as coisas têm por trás de si um princípio físico, material, chamado arqué.
Para Tales, o arqué seria a água. Tales observou que o calor necessita de água,
que o morto resseca, que a natureza é úmida, que os germens são úmidos, que os
alimentos contêm seiva, e concluiu que o princípio de tudo era a água. Com essa
afirmação deduz-se que a existência singular não possui autonomia alguma,
apenas algo acidental, uma modificação. A existência singular é passageira,
modifica-se. A água é um momento no todo em geral, um elemento. Tales com essa
afirmação queria descobrir um elemento físico que fosse constante em todas as
coisas. Algo que fosse o princípio
unificador de todos os seres.
Principais fragmentos: “... a água é o princípio de todas as coisas...”.
“... todas as coisas estão cheias de deuses...”.
“... a pedra magnética possui uma alma porque
move o ferro..."
Anaximandro de Mileto (610-546 a.C.)
Discípulo e sucessor de Tales. Anaximandro recusa-se a
ver a origem do real em um elemento particular; todas as coisas são limitadas,
e o limitado não pode ser, sem injustiça, a origem das coisas. Do ilimitado
surgem inúmeros mundos, e estabelece-se a multiplicidade; a gênese das coisas a partir do ilimitado é explicada através da
separação dos contrários em conseqüência do movimento eterno. Para
Anaximandro o princípio das coisas - o arqué - não era algo visível; era uma
substância etérea, infinita. Chamou a essa substância de apeíron (indeterminado, infinito). O apeíron seria uma “massa
geradora” dos seres, contendo em si todos os elementos contrários.
Anaximandro tinha um argumento contra Tales: o ar é
frio, a água é úmida, e o fogo é quente, e essas coisas são antagônicas entre
si, portanto um o elemento primordial não poderia ser um dos elementos
visíveis, teria que ser um elemento neutro, que está presente em tudo, mas está
invisível.
Esse filósofo foi o iniciador da astronomia grega. Foi
o primeiro a formular o conceito de uma lei universal presidindo o processo
cósmico totalmente.
De acordo com ele para que o vir-a-ser não cesse, o
ser originário tem de ser indeterminado. Estando, assim, acima do vir-a-ser e
garantindo, por isso, a eternidade e o curso do vir-a-ser.
O seu fragmento refere-se a uma unidade primordial, da
qual nascem todas as coisas e à qual retornam todas as coisas. Anaximandro
recusa-se a ver a origem do real em um elemento particular. Do ilimitado surgem
inúmeros mundos, e estabelece-se a multiplicidade; a gênese das coisas a partir
do ilimitado é explicada através da separação dos contrários em conseqüência do
movimento eterno.
Principais fragmentos: “... o ilimitado é eterno...”
“...
o ilimitado é imortal e indissolúvel...”
Anaxímenes de Mileto
(588-525 a.C.)
O princípio de tudo, o arqué, seria o ar e as coisas da natureza seriam o ar
condensado em vários graus. A rarefação e condensação do ar forma o mundo. A
alma é ar, o fogo é ar rarefeito; quando acontece uma condensação, o ar se
transforma em água, se condensa ainda mais e se transforma em terra, e por fim em pedra. Foi o primeiro a
afirmar que a Lua recebe a sua luz do Sol.
Para esse filósofo o ar representa um elemento
invisível e imponderável, quase inobservável e, no entanto, observável: o ar é a própria vida, a força vital, a
divindade que “anima” o mundo.
Principais fragmentos: “... do ar dizia que nascem
todas as coisas existentes, as que foram e as que serão, os deuses e as coisas
divinas...”
AS OUTRAS ESCOLAS GREGAS
Xenófanes de Cólofon (570-528 a.C.)
O elemento primordial para ele é a terra, através do elemento terra desenvolve sua cosmologia.
Combate acirradamente a concepção antropomórfica dos deuses, e defende um Deus
único, eterno, imóvel.
Fragmentos principais: “... tudo sai da terra e tudo
volta à terra...”
“... tudo o que nasce e cresce é terra e água..."
Heráclito de Éfeso (540-476 a.C.)
Cognominado de "obscuro". Afirmava que todas as coisas estão em movimento como um
fluxo perpétuo. O escoamento contínuo dos seres em mudança perpétua, e que
esse se processa através de contrários. A lei fundamental do Universo é o
devir, que significa contínuas transformações. Tudo flui e nada fica como é.
Coisa alguma é estável. Tudo segue seu curso. Ou seja, nada é. O ser não é. Para Heráclito o princípio das
coisas é o fogo. O fogo transforma-se em água, sendo que uma metade retorna ao
céu como vapor e a outra metade transforma-se em terra. Sucessivamente,
a terra transforma-se em água e a água, em fogo. Todas as coisas
mudam sem cessar, e o que temos diante de nós em dado momento é diferente do
que foi há pouco e do que será depois. Afirmou: "Nunca nos banhamos duas
vezes no mesmo rio, pois na segunda vez não somos os mesmos, e também o rio
mudou."
Grande representante do pensamento dialético. Concebia a realidade do mundo
como algo dinâmico, em permanente transformação. Daí sua escola filosófica ser
chamada de mobilista (=movimento). Para ele, a vida era um fluxo constante,
impulsionado pela luta de forças contrárias. Assim, afirmava que “a luta é a
mãe, rainha e princípio de todas as coisas”. É pela luta das forças opostas que
o mundo se modifica e evolui.
Heráclito imaginava a realidade dinâmica do mundo sob a forma de fogo, com
chamas vivas e eternas, governando o constante movimento dos seres.
Ele
estabelece a existência de uma lei universal e fixa (o logos), regedora de
todos os acontecimentos particulares e fundamentalmente da harmonia universal,
harmonia feita de tensões.
“Tudo
flui”. Nada neste nosso mundo é permanente. Tudo está mudando o tempo todo. A
mudança é a lei da vida e do universo.
Ele
concebe o próprio absoluto como processo, como a própria dialética. O ser
é o um, o segundo é o devir. O absoluto se dá a unidade dos opostos. Para ele a
essência é a mudança.
Principais fragmentos: “... Todas as coisas estão em movimento...”
“... O movimento se processa através de
contrários.."
“... Tudo se faz por contraste; da luta dos contrários nasce a mais
bela harmonia...”
“... descemos e não descemos nos mesmos rios; somos e não somos...”
Pitágoras de Samos
É dele a idéia de que o número é
o princípio ordenador de todas as coisas, os quais representam a ordem e a
harmonia. Assim, a essência dos seres, teria uma estrutura matemática. Para
Pitágoras, aquele que compreende todas
as relações numéricas chega à essência das coisas. Portanto, a substância
das coisas é o número. Pitágoras interpretou a forma dualista da teoria dos
opostos e a descoberta de ordem matemática, sobretudo do famoso teorema que lhe
é atribuído.
“... o princípio das
matemáticas é o princípio de todas as coisas.."
Parmênides de Eléia (530-460 a.C.)
Parmênides
afirma que a única coisa eterna é o ser;
as mudanças são ilusórias. Não haveria, por conseguinte, mudanças nas coisas.
Para conhecer o conteúdo verdadeiro e objetivo das coisas é necessário pensar.
Conhecer o ser é conhecer a verdade. Parmênides combateu Heráclito que diz que
tudo flui. Para Parmênides é absurdo e impensável considerar que uma coisa pode
ser e não ser ao mesmo tempo. Parmênides considera que o movimento existe
apenas no mundo sensível, e no mundo inteligível o ser é imóvel.
Defendia a existência de dois caminhos para a
compreensão da realidade. O primeiro é o da filosofia, da razão, da essência. O
segundo é o da crendice, da opinião pessoal, da aparência enganosa, que ele
considerava a “via de Heráclito”.É o primeiro filósofo a formular os princípios
lógicos de identidade e de não-contradição, desenvolvidos depois por Aristóteles.
Ao refletir sobre o ser, pela via da essência, o filósofo eleático conclui que
o ser é eterno, único, imóvel e ilimitado. Essa é a via da verdade pura, a via
a ser buscada pela ciência e pela filosofia. Ele afirma que o imóvel, o
limitado e o esferóide é Deus.Para ele tudo não apenas deve ser sem-princípio e
não-criado como também deve ser preenchido, um plenum. Isso gera uma visão do
universo como uma única entidade realmente imutável. Tudo é um.
“... pois pensar
e ser é o mesmo...”
“... o ser é, e o nada, ao contrário, nada é...”
“... resta-nos assim um único caminho: o ser é...”
Empédocles de Agrigento (490-435 a.C.)
O princípio gerador de todas as coisas não seria um
único elemento, mas quatro elementos: terra, ar, água e fogo, que se misturam
em diferentes proporções e formam as várias substâncias que encontramos no
mundo. O que unia e desunia os quatro elementos eram dois princípios: o amor e
a luta. Os quatro elementos e os dois princípios seriam eternos, mas as
substâncias formadas por eles seriam pouco duradouras.
Principais fragmentos: “... duas coisas quero dizer;
às vezes, do múltiplo cresce o uno para um único ser; outras, ao contrário,
divide-se o uno na multiplicidade..”
Anaxágoras de Clazomena (500-428 a.C.)
Haveria um número infinito de elementos que Anaxágoras
chamou de homeomerias, ou sementes invisíveis, que diferiam entre si nas
qualidades. Todas as coisas resultariam da combinação das diferentes homeomerias.
Fragmentos Principais: “ ... Todas as coisas estavam
juntas, ilimitadas em número e pequenez, pois o pequeno era ilimitado...”
Demócrito de Abdera (460-370 a.C.)
Acha que tudo o que existe é composto
de átomos, partículas invisíveis e indivisíveis. Os átomos, infinitos em
número, combinam-se uns aos outros e formam todas as coisas. Os átomos são
invisíveis porque são muito pequenos e também porque não possuem qualidades. No
universo somente existiriam átomos e vácuo (que representaria a ausência do ser).
Todas as qualidades das coisas como cor, cheiro, peso, som, beleza, vida e
outras, nada mais são do que movimento e modos de ser diferentes dos agregados
de átomos que formam a respectiva coisa. Para ele é o acaso ou a necessidade
que promove a aglomeração de certos átomos e a repulsão de outros. O acaso é o
encadeamento imprevisível de causas. A necessidade é o encadeamento previsível
e determinado entre causas. Sua concepção mecanicista – “tudo o que existe no
universo nasce do acaso ou da necessidade” Tudo tem uma causa.
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