Aristóteles
Filósofo grego, um dos mais
importantes pensadores de todos os tempos. Nasceu em Estagira, filho de
Nicômaco, médico de Amintas II, rei da Macedônia e pai de Filipe. Aos dezessete
anos, foi para Atenas, tornando-se discípulo de Platão na Academia. Continuaria
por vinte anos ao lado do mestre, até a data de sua morte. Deixando Atenas, foi
para Assos, na Ásia Menor, onde Hérmias, ex-membro da Academia, governava. Lá
desposou Pítias, sobrinha de Hérmias. Com a morte deste, mudou-se para
Mitilene, onde permaneceu por dois anos. Falecendo sua esposa, desposou
posteriormente Herpilis, que lhe deu um filho, Nicômaco. Em 343, mudou-se para
a corte de Pela, porque Filipe da Macedônia lhe confiou a tarefa de educar seu
filho, Alexandre. Em 336, com a morte de Filipe e ascensão de Alexandre ao
trono, este rei iniciou as expedições que lhe permitiram construir um vasto
império. Nesta data, Aristóteles regressou a Atenas, onde fundou sua própria
escola, o Liceu, que se transformou em importante centro de estudos, não apenas
filosóficos mas, igualmente, de ciências naturais, dotado de imponente acervo
de livros, instrumentos e espécimes. Após a morte de Alexandre, em 323, a facção nacionalista
extremada de Atenas dirigiu contra Aristóteles o ódio devotado ao líder
macedônio, acusando o filósofo de impiedade. Aristóteles refugiou-se em Cálcis,
onde veio a falecer no ano seguinte.
A
obra aristotélica era dividida em duas espécies de escritos: uma destinada ao
grande público (obras exotéricas), redigida em forma dialética, e outra
de caráter demonstrativo e didático, composta para os alunos da escola (obras acroamáticas).
Da primeira espécie, restam-nos apenas dois diálogos: Eudemo e Protréptico.
As obras dedicadas ao ensino do Liceu foram conservadas pela escola e um grande
número delas chegou até nossos dias. Elas se encontram sistematicamente
divididas em seis grupos: escritos lógicos, que receberam a denominação genérica
de Organon, compreendendo Categorias, Sobre a Interpretação,
Analíticos (Primeiros e Segundos), Tópicos e Refutações
Sofísticas; estudos da natureza, que incluem dois grupos, o primeiro de estudos
físicos, dos quais fazem parte a Física, Sobre o Céu, Sobre a Geração e
a Corrupção e Meteorológicos e o segundo de estudos biológicos,
referentes ao mundo vivo, onde figuram Da Alma e História dos
Animais, composta de estudos acerca de suas partes, geração, movimento;
filosofia primeira, que inclui os catorze livros agrupados posteriormente sob a
denominação Metafísica; os escritos éticos e políticos, de que fazem parte a
Ética a Nicômaco, Ética a Eudemo e Política; finalmente, as obras
Retórica e Poética (desta última nos restam somente fragmentos),
que merecem, cada uma, um lugar próprio.
Enquanto
seu mestre Platão inclinou-se preferencialmente por fazer desenhos de
construções sociais imaginárias, utópicas, por projeções sobre qual o melhor
futuro da humanidade, Aristóteles, seu discípulo mais famoso, procurou tratar
das coisas reais, dos sistema políticos existentes na sua época. Atentou por
classificá-los, definindo suas características mais proeminentes, separando-os
em puros ou pervertidos. Desta forma, enquanto Platão inspirou revolucionários
e doutrinários da sociedade perfeita, Aristóteles foi o mentor dos grandes
juristas e dos pensadores políticos mais inclinados à ciência e ao
realismo
Aristóteles
discordava em alguns pontos de Platão. Não acreditava que existisse um mundo
das idéias abrangedor de tudo existente; achava que a realidade está no que
percebemos e sentimos com os sentidos, que todas as nossas idéias e pensamentos
tinham entrado em nossa consciência através do que víamos e ouvíamos e que o
homem possuía uma razão inata, mas não idéias inatas.
Para Atistóteles, tudo na natureza possuía a probabilidade de se concretizar
numa realidade que lhe fosse inerente. Assim, uma pedra de granito poderia se
transformar numa estátua desde que um escultor se dispusesse a escupi-la. Da mesma
forma, de um ovo de galinha jamais poderia nascer um ganso, pois essa
característica não lhe é inerente. Aristóteles acreditava que na natureza havia
uma relação de causa e efeito e também acreditava na causa da finalidade. Deste
modo, não queria saber apenas o porquê das coisas, mas também a intenção, o
propósito e a finalidade que estavam por trás delas. Para ele, quando
reconhecemos as coisas, as ordenamos em diferentes grupos ou categorias e tudo
na natureza pertence a grupos e subgrupos. Ele foi um organizador e um homem
extremamente meticuloso. Também fundou a ciência da lógica.
Aristóteles
dividia as coisas em inanimadas (precisavam de agentes externos para se
transformar) e criaturas vivas (possuem dentro de si a potencialidade de
transformação). Achava que o homem estava acima de plantas e animais porque,
além de crescer e de se alimentar, de possuir sentimentos e capacidade de
locomoção, tinha a razão. Também acreditava numa força impulsora ou Deus (a
causa primordial de todas as coisas).
Sobre
a ética, Aristóteles pregava a moderação para que se pudesse ter uma vida
equilibrada e harmônica. Achava que a felicidade real era a integração de três
fatores: prazer, ser cidadão livre e responsável e viver como pesquisador e
filósofo. Cria também que devemos ser corajosos e generosos, sem aumentar ou
diminuir a dosagem desses dois itens. Aristóteles chamava o homem de ser
político. Citava formas de governo consideradas boas como a monarquia, a
aristocracia e a democracia. Acreditava que sem a sociedade ao nosso redor não
éramos pessoas no verdadeiro sentido do termo.
Aristóteles
compôs dois grandes trabalhos sobre a ciência política: "Política"
(Politéia) que provavelmente eram lições dadas no Liceo e registradas por seus
alunos, e a "Constituição de Atenas", obra que só se tornou mais
conhecida, ainda que em fragmentos, no final do século XIX, mais precisamente
em 1880-1, quando foi encontrada no Egito; registra as várias formas e
alterações constitucionais que ela passou por obra dos seus grandes
legisladores, tais como Drácon, Sólon, Pisístrato, Clístenes e Péricles e que
também pode ser lida como uma história política da cidade.
A Ética
No sistema aristotélico, a ética é a
ciência das condutas, menos exata na medida em que se ocupa com assuntos
passíveis de modificação. Ela não se ocupa com aquilo que no homem é essencial
e imutável, mas daquilo que pode ser obtido por ações repetidas, disposições
adquiridas ou de hábitos que constituem as virtudes e os vícios. Seu objetivo
último é garantir ou possibilitar a conquista da felicidade.
Partindo das disposições naturais do
homem (disposições particulares a cada um e que constituem o caráter), a moral
mostra como essas disposições devem ser modificadas para que se ajustem à
razão. Estas disposições costumam estar afastadas do meio-termo, estado
que Aristóteles considera o ideal. Assim, algumas pessoas são muito tímidas,
outras muito audaciosas. A virtude é o meio-termo e o vício se dá ou na falta
ou no excesso. Por exemplo: coragem é uma virtude e seus contrários são a
temeridade (excesso de coragem) e a covardia (ausência de coragem).
As virtudes se realizam sempre no
âmbito humano e não têm mais sentido quando as relações humanas desaparecem,
como, por exemplo, em relação a Deus. Totalmente diferente é a virtude
especulativa ou intelectual, que pertence apenas a alguns (geralmente os
filósofos) que, fora da vida moral, buscam o conhecimento pelo conhecimento. É
assim que a contemplação aproxima o homem de Deus.
Potência, ato e movimento
Todas as coisas são em potência e ato. Uma coisa em potência
é uma coisa que tende a ser outra, como uma semente (uma árvore em potência).
Uma coisa em ato é algo que já está realizado, como uma árvore (uma semente em
ato). É interessante notar que todas as coisas, mesmo em ato, também são em
potência (pois uma árvore - uma semente em ato - também é uma folha de papel ou
uma mesa em potência). A única coisa totalmente em ato é o Ato Puro, que
Aristóteles identifica com o Bem. Esse Ato não é nada em potência, nem é a
realização de potência alguma. Ele é sempre igual a si mesmo, e não é um
antecedente de coisa alguma. Desse conceito Tomás de Aquino derivou sua noção
de Deus em que Deus
seria "ato puro".
Um ser em potência só pode tornar-se um ser em ato mediante
algum movimento. O movimento vai sempre da potência ao ato, da privação à
posse. É por isso que o movimento pode ser definido como ato de um ser em
potência enquanto está em potência.
Biologia
A biologia é a ciência da vida e situa-se no âmbito da física
(como a própria psicologia), pois está centrada na relação entre ato e
potência. Aristóteles foi o verdadeiro fundador da zoologia - levando-se em
conta o sentido etimológico da palavra. A ele se deve a primeira divisão do
reino animal.
Aristóteles é o pai da teoria da abiogênese, que durou até
séculos mais recentes, segundo a qual um ser nascia de um germe da vida, sem
que um outro ser precisasse gerá-lo (exceto os humanos): um exemplo é o das
aves que vivem à beira das lagoas, cujo germe da vida estaria nas plantas
próximas.
Metafísica
O termo "Metafísica" não é aristotélico; o que hoje
chamamos de metafísica era chamado por Aristóteles de filosofia primeira. Esta
é a ciência que se ocupa com realidades que estão além das realidades físicas
que possuem fácil e imediata apreensão sensorial.
O conceito de metafísica em Aristóteles é extremamente
complexo e não há uma definição única. O filósofo deu quatro definições para
metafísica:
- a ciência que indaga causas e princípios;
- a ciência que indaga o ser enquanto ser;
- a ciência que investiga a substância;
- a ciência que investiga a substância supra-sensível.
Os conceitos de ato e potência, matéria e forma, substância e
acidente possuem especial importância na metafísica aristotélica.
As quatro causas
Para Aristóteles, existem quatro causas implicadas na
existência de algo:
- A causa material (aquilo do qual é feita alguma coisa, a argila, por exemplo);
- A causa formal (a coisa em si, como um vaso de argila);
- A causa motora (aquilo que dá origem ao processo em que a coisa surge, como as mãos de quem trabalha a argila);
- A causa final (aquilo para o qual a coisa é feita, cite-se portar arranjos para enfeitar um ambiente).
A teoria aristotélica sobre as causas estende-se sobre toda a
Natureza, que é como um artista que age no interior das coisas.
Essência e acidente
Aristóteles distingue, também, a essência e os acidentes em
alguma coisa.
A essência é algo sem o qual aquilo não pode ser o que é; é o
que dá identidade a um ser, e sem a qual aquele ser não pode ser reconhecido
como sendo ele mesmo (por exemplo: um livro sem nenhum tipo de letras não pode
ser considerado um livro, pois o fato de ter letras é o que permite-o ser
identificado como "livro" e não como "caderno" ou meramente
"papel em branco").
O acidente é algo que pode ser inerente ou não ao ser, mas
que, mesmo assim, não descaracteriza-se o ser por sua falta (o tamanho de uma
flor, por exemplo, é um acidente, pois uma flor grande não deixará de ser flor
por ser grande; a sua cor, também, pois, por mais que uma flor tenha que ter,
necessariamente, alguma cor, ainda assim tal característica não faz de uma flor
o que ela é).
Política:Alexandre e Aristóteles
Na filosofia aristotélica a política é um desdobramento
natural da ética. Ambas, na verdade, compõem a unidade do que Aristóteles
chamava de filosofia prática.
Se a ética está preocupada com a felicidade individual do
homem, a política se preocupa com a felicidade coletiva da pólis. Desse
modo, é tarefa da política investigar e descobrir quais são as formas de
governo e as instituições capazes de assegurar a felicidade coletiva. Trata-se,
portanto, de investigar a constituição do estado.
Acredita-se que as reflexões aristotélicas sobre a política
originam-se da época em que ele era preceptor de Alexandre, o Grande.
Direito
Para Aristóteles, assim como a política, o direito também é
um desdobramento da ética. O direito para Aristóteles é uma ciência dialética,
por ser fruto de teses ou hipóteses, não necessariamente verdadeiras, validadas
principalmente pela aprovação da maioria.
Retórica
Aristóteles considerava importante o conhecimento da
retórica, já que ela se constituiu em uma técnica (por habilitar a estruturação
e exposição de argumentos) e por relacionar-se com a vida pública. O fundamento
da retórica é o entimema (silogismo truncado, incompleto), um silogismo no qual
se subentende uma premissa ou uma conclusão. O discurso retórico opera em três
campos ou gêneros: gênero deliberativo, gênero judicial e gênero epidítico
(ostentoso, demonstrativo).
Poética
A poética é imitação (mimesis) e abrange a poesia épica, a
lírica e a dramática: (tragédia e comédia). A imitação visa a recriação e a
recriação visa aquilo que pode ser. Desse modo, a poética tem por fim o
possível. O homem apresenta-se de diferentes modos em cada gênero poético: a
poesia épica apresenta o homem como maior do que realmente é, idealizando-o; a
tragédia apresenta o homem exaltando suas virtudes e a comédia apresenta o
homem ressaltando seus vícios ou defeito.
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