NEOLIBERALISMO É EXTREMA DIREITA

 O LIBERALISMO É ABALADO

Após a primeira guerra mundial (1918), a economia norte americana viveu um período de grande crescimento, chegando a ser responsável por quase 1/3 do consumo e 42% da produção mundial. Entre os anos de 1923/29, houve o crescimento industrial de 33% e o faturamento do comercio quintuplicou. Todo crescimento, chamado de “os loucos anos 20” produziram uma sensação de que o liberalismo era uma doutrina econômica perfeita, o marxismo havia sido superado pela incontestável realidade, mesmo que os negros, africanos, latino-americanos intencionalmente não fizessem parte do real. Em 1929, os ideais liberais sofreriam um forte abalo com a maior crise de superprodução conhecida até então. Para aumentar o lucro, ampliando a massa geral de mais-valia, as empresas americanas, desde a segunda metade dos anos 20, passaram a ter uma política de forte arrocho salarial, o crescimento econômico caminhava de braços dados com um abismo social; negros sofriam com a segregação racial da Jim Crow laws e a super exploração do trabalho, milhões de imigrantes trabalhavam por salários irrisórios, a ampliação de mais-valia relativa e absoluta, investimentos maciços em capital constante parecia o fermento que permitiria que o bolo continuasse a crescer. O liberalismo garantiria lucros extraordinários “AD Eternum”. Mas não foi bem assim, em 1929 indústrias começam a fechar as portas, as vendas despencam; a combinação entre baixos salários e superprodução aparece como uma realidade incontestável. No intuito de salvar o que fosse possível, no dia 24 de outubro de 1929, empresas e investidores colocaram a venda mais de 12 milhões de ações na bolsa de valores de Nova York, no dia 28 de outubro mais 33 milhões de ações foram colocadas a venda. As notícias das falências já haviam circulado, ninguém compraria títulos de empresas falidas, assim as ações caíram mais de 14% e, rapidamente, 12 mil empresas quebraram, 4 mil bancos fecharam as portas, o PIB caiu mais 50% e o desemprego chegou a 27% da população, isso sem falar na precarização das condições de quem estava empregado e no aumento exponencial da mendicância. A crise abalaria todas as estruturas do liberalismo americano, mas anos antes, com o término da primeira guerra mundial, a Europa vivia essa descrença, o que só agravou com a crise de 1929, cujas consequências foram de proporções mundiais; a solução imediata encontrada por algumas potências capitalistas europeias foi fascismo e a radicalização da ordem capitalista, estado forte, interventor, anticomunista, perseguição de lideranças sindicais, partido único, conservadorismo moral; a ideia era um estado bastante beneplácito com os seus aliados e draconiano com os seus adversários. Na Alemanha nazista, por exemplo, judeus tiveram suas propriedades expropriadas para serem entregues a empresários aliados do regime. Em 1932, ano que Hitler ascenderia politicamente na Alemanha, os democratas chegam à presidência dos EUA com Roosevelt. Uma série de medidas, baseada nas ideias do economista inglês John Maynard Keynes são tomadas, o estado passava a ter uma função reguladora, mas principalmente, o estado deveria salvar o capitalismo e a burguesia. O new deal, diferente do que divulga a cantilena liberal, nunca deu resultado e não recuperou os EUA da crise, isso só aconteceria com a segunda guerra mundial e os investimentos no complexo industrial militar. Diferente do que nos conta a historiografia burguesa, a segunda guerra não foi uma disputa entre liberais e fascistas, defensores do livre mercado contra ditadores com sérios problemas morais e psíquicos. Em torno do projeto nazifascistas, há poderosas empresas como Ford, Fanta, Volks, Hugo Boss, BMW, Mercedes, IBM, Krupp, Siemens, Nestlé e etc. Também houve apoio político do chamado mundo liberal ocidental, Churchill, muitas vezes saudado como herói da liberdade, foi entusiasta de Mussolini, defensor do colonialismo europeu, que matava aos milhões na África e na Ásia. A revista americana Time, uma das mais importantes publicações liberais dos EUA, escolheu Hitler como o homem do ano em 1938. É exatamente em 1938, em Paris, que o neoliberalismo começa, no Colóquio Walter Lippmann, organizado pelo filósofo Louis Rougie. Participaram desse encontro Vinte e seis intelectuais, incluindo alguns dos mais proeminentes pensadores liberais, entre eles os teóricos da Escola Austríaca Friedrich Hayek e Ludwig von Mises

O NEOLIBERALISMO E O CONSERVADORISMO


O neoliberalismo, oficialmente fundado em 1938, pretendia resgatar os valores do liberalismo clássico, arranhado pela crise de 1929 e as consequências da primeira guerra. Essa tentativa de voltar a um passado idealizado, onde o liberalismo seria próspero e libertário, foi radicalizada pelo movimento marginalista e principalmente pela Sociedade Mont Pèlerin, fundada em 1947 com o objetivo de publicar livros, artigos e divulgar ideias que misturavam economia, metafísica e conservadorismo moral; criticavam duramente a teoria do valor de Marx, da presença reguladora do estado na economia e até mesmo a existência da sociedade. Embora criticassem a presença do estado como mediador das relações econômicas, defendendo a mão invisível, a “ação humana”, os neoliberais da sociedade Mont Pèlerin, não se furtaram ocupar cargos políticos. Muitos deles chegaram a ocupar lugar de proa no aparato de governo dos maiores países. Nos tempos da presidência Reagan (1981-1988), de cerca de 80 conselheiros econômicos do presidente, mais de um quarto eram da Sociedade Mont. Pèlerin. O neoliberalismo tem em Mises e Hayek seus pilares, o fundamento político do neoliberalismo é a suposta refutação da teoria do valor de Marx. Para Mises, possivelmente o mais influente pensador neoliberal, o único elemento que cria valor é a vontade humana, mas do que humana, do indivíduo em particular. Tanto Mises, quanto Hayek, partem do princípio que não existe a sociedade, apenas indivíduos, negando a existência de um ser social, e do produto da relação entre os sujeitos e eles mesmos e entre os sujeitos e a natureza. Essa negação do real (em detrimento da afirmação da ação humana) se manifesta, de forma explícita, na negação da existência de luta de classes e da exploração do trabalho. Para os neoliberais, a liberdade de mercado e a propriedade são os únicos direitos naturais, se colocando até mesmo na frente da vida. Tanto a escola austríaca quanto a de Chicago, defendem a liberdade de mercado, mesmo que isso custe a morte de milhares de trabalhadores, pois entendem que, é na liberdade de mercado que se encontra a quintessência humana, já que em uma sociedade desse tipo, cada trabalhador vende a sua força de trabalho para quem quiser e pelo valor de mercado, o trabalho, como qualquer mercadoria, tende a se valorizar ou não, a depender das suas qualidades. Os neoliberais só “esqueceram” de falar que a força de trabalho, produz mais valor do que custa a quem a compra (mais-valor), isso prova de forma cabal que a igualdade liberal é mera aparência. O trabalhador é forçado a vender a sua força de trabalho, ao vender a sua força de trabalho não se apropria de nenhum valor a mais, ao contrário, sua mercadoria, a força de trabalho, gera mais valor a quem compra, em contrapartida, o seu salário, ou seja, a mercadoria pela qual o trabalhador trocou a sua, não tem e nunca terá o mesmo valor que a sua mercadoria. Em todos os outros casos, a lei geral de equivalência diz que um valor só pode ser trocado por outro valor igual, valores de uso diferentes, com valores iguais, a mercadoria força de trabalho, ao contrário, produz um valor maior do que a mercadoria salário, o trabalhador é forçado a trocar a sua mercadoria por salário. O que os neoliberais queriam e querem, nunca foi, e continua não sendo, a ausência do estado - um estado mínimo, isso pode se notar pelo gigantismo do estado norte americano, pelos suntuosos recursos dos estados na Europa – os neoliberais querem e defendem um estado eficiente e armado a serviço da burguesia, com uma política voltada para austeridade fiscal, onde os trabalhadores deveriam pagar as contas da burguesia. Com o discurso de defesa da liberdade, da propriedade privada como valor acima da vida, os neoliberais construíram um discurso moral, assentado em uma religiosidade pseudocristã, onde o indivíduo é responsável pelo seu sucesso ou fracasso, pela sua sorte ou malogro, estando todo o sucesso e riqueza às suas mãos, lhe cabendo competência, destreza e disposição para conseguir tudo. Assim, escamoteando a maisvalia, o imperialismo, as ditaduras, o neocolonialismo, o machismo e toda forma de repressão, a qual trabalhadoras e trabalhadores estão submetidos, o neoliberalismo vendeu a ilusão de que todos somos iguais, portanto, o pobre é responsável e único culpado pela sua pobreza, do mesmo modo que os capitalistas tem méritos pelas suas riquezas.

ABRINDO A CAIXA DE PANDORA 


O pensamento de extrema direita tem os EUA como berço, é da terra do Tio Sam que surgem as ideias que influenciaram o nazismo, com os supremacistas brancos da Ku Klus Klan. É dos americanos o dinheiro que jorra para financiar as ideias ultraliberais, conhecidos no Brasil como anarcocapitalistas ou ainda libertários, institutos e think tanks nacionais, são filiados ou recebem recursos de institutos liberais internacionais como Atlas e Cato. Vejamos o que pensam esses novos intelectuais do mercado, cujas ideias em terras Tupiniquim são abraçadas pelo Movimento Brasil Livre (MBL), Rodrigo Constantino, economista e atual presidente do Instituto liberal, Hélio Beltrão, Cristiano e Fernando Chiocca, fundadores do Instituto Mises Brasil, o Partido Novo de João Amoedo, o canal Brasil Paralelo, Instituto Milenium e outros tantos think tanks. Quem acompanha o canal “Ideias radicais” no Youtube, já deve ter ouvido falar de Hans Hermann, cultuado nome do dito libertarismo. Chamado de libertário pela nova direita protofascista, no seu livro “democracia, o deus que falhou” o liberal defende a monarquia. Pois, segundo o paladino da liberdade, na monarquia o governo é uma propriedade privada, assim, o rei é mais eficiente, posto que não está cuidando de algo público, mas de propriedade sua. O brasileiríssimo Rodrigo Constantino, também se mostra simpático a monarquia, além de defender pautas desumanas e anti- ambientalistas, como o comercio de órgãos (Mises também defendia) e a privatização dos tubarões. Murray N. Rothbar , fundador do Mises Institute e o provavelmente a maior referência do movimento libertário e a anarcocapitalistas, no seu MANIFESTO LIBERTÁRIO, publicado em 1973, defende que o homem é um proprietário privado e que liberdade é igual a propriedade, não há direito humano sem propriedade privada, somos naturalmente proprietários privados. Para Rothbar não há humanidade sem propriedade, quão maior for a propriedade, mais humano se é, sem propriedade não há humanidade. Esse, que a nova direita brasileira, em especial os Chicago Boys, chamam de libertário, apoiou David Duke (líder da Ku Klus Klan e negacionista do holocausto) a presidente dos EUA em 1992. O mesmo Rothbar no seu livro "A ética da liberdade" defende uma teoria diferente do sistema penal, o que chamou de pena redistributiva. Esse sistema consistiria na vítima ser indenizada pelo seu devedor (réu), caso o culpado não tivesse condições de indenizar a vítima, então ele deveria ser escravizado (sim, isso mesmo, escravizado). Rothbar também é contra a existência de uma polícia ou segurança pública, pois isso implicaria estado e leis, o que Rothbar é contra, então no lugar da polícia ele propõe a formação de seguranças privados, para quem poder pagar para a formação dessas milícias pessoais. Guedes e Bolsonaro: o casamento perfeito. Paulo Guedes, o economista que nunca participou do debate público no Brasil, porque estava muito ocupado na década de 1980, admirando a ditadura chilena, participando de forma entusiasmada da implantação do neoliberalismo de Pinochet. Bolsonaro, o deputado do baixo claro, que nunca escondeu de ninguém sua paixão erótica por torturadores e sua disposição infinita de defender a elite. Eis, um casal perfeito. Foi durante a campanha de 2018, que o então candidato Jair Bolsonaro, comparou a sua relação com Paulo Guedes (seu futuro ministro da economia e Posto Ipiranga) a um casamento. Houve quem visse contradição e oposição de interesses no enlace matrimonial entre o capitão bonachão, com sua peculiar bazófia, e o liberal investidor formado pela escola de Chicago. Quem conhece a história do neoliberalismo sabe que não há nenhuma contradição. A ditadura Chilena, da qual Paulo Guedes participou, tinha Hayek como um dos grandes apoiadores. O neoliberal da escola austríaca, em visita ao país da América do Sul nos 70, quando a ditadura de Pinochet já não escondia sua extrema violência, declarou que “a democracia precisa de uma boa limpeza por um governo forte” Essa frase, era uma menção ao que o mesmo Hayek havia dito sobre o salazarismo anos antes, o sentido, no entanto, era o mesmo, a tortura é necessária, Caso reste alguma dúvida da relação entre o neoliberalismo, o reacionarismo e as ditaduras, lembremos o que disse o maior nome do neoliberalismo Hayek “Como compreenderão, é possível a um ditador governar de modo liberal. E também é possível a uma democracia governar com total falta de liberalismo. Pessoalmente, eu prefiro um ditador liberal a um governo democrático a que falte liberalismo.” Guedes, Bolsonaro são inimigos dos trabalhadores, o neoliberalismo é a doutrina da fome de muitos, para a fortuna incalculável de alguns, é teoria econômica da plutocracia. É hora da Ofensiva socialista As trabalhadoras e trabalhadores do campo e da cidade, só há uma alternativa, tomar os meios de produção, pois não há nenhuma possibilidade de capitalismo humanizado, não há mais-valia justa e razoável, o socialismo é a única alternativa para a humanidade. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

Augusto, André Guimarães. O neoliberalismo religioso e aristocrático de Von Mises. 

Galindo Luciano. jornal La Repubblica, 27-07-2015. 

Rocha Camila. Think Tanks ultraliberais e a nova direita brasileira. Disponível em https://diplomatique.org.br/think-tanks-ultraliberais-e-nova-direita-brasileira

 Rothbar, Murray N. Por uma nova liberdade. Um manifesto libertário.1º edição. Mises Brasil 2013. _______________ a ética da liberdade. Disponível em https://rothbardbrasil.com/aetica-da-liberdade/ Hermann, Hans. democracia, o Deus que falhou, disponível em https://rothbardbrasil.com/democracia-o-deus-que-falhou-2/ 

Francisco Louçã e Ricardo Cabral. Tão liberal e tão amigo de Salazar. https://blogues.publico.pt/tudomenoseconomia/2014/09/02/tao-liberal-e-tao-amigo-desalazar/




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