O MÉTODO MATERIALISTA DA HISTÓRIA




            O materialismo histórico dialético é a concepção filosófica de Marx e Engels com influência da dialética hegeliana na medida em que essa possibilitou à filosofia adicionar o elemento da contradição como base ontológica do ser e da história, superando assim o princípio da não contradição de Aristóteles.  Segundo o materialismo histórico a história é dinâmica, sofrendo alterações constantes resultantes das alterações nas relações de produção, para Marx e Engels a produção da vida material determina uma série de outros aspectos da vida humana, inclusive a história. Apesar da influencia hegeliana é preciso diferenciar o uso da dialética em ambos, para isso usaremos o próprio Karl Marx que afirma:
meu método dialético por seu fundamento se difere sendo a ele inteiramente oposto. Para Hegel o processo de pensamento - que ele transforma em sujeito autônomo sob o nome de ideia – é o criador do real, e o real é apenas sua manifestação externa. Para mim, ao contrário, o ideal não é mais do que o material transporta para a cabeça do ser humano e por ele interpretado.(...) Em Hegel, a dialética está de cabeça pra baixo. É necessário pô-la de cabeça pra cima, a fim de descobri a substancia racional dentro do invólucro místico (Marx, 2002, pag.28 e 29)

            Para analisar a história partindo da concepção marxista temos que compreender que cada modo de produção da história humana tem em si o princípio da sua negação, sua contradição, estando fadado a ceder lugar a uma nova etapa histórica, essas etapas ou mudanças na história, tem sempre como centro a economia e a necessidade de novas criar novas relações de produção que possam atender a determinadas circunstancias históricas, as revoluções tem sempre como protagonista a economia e a mudança na produção material.  O historiador e o professor de história materialista entendem os acontecimentos históricos não como a vontade divina como pensavam os religiosos como Santo Agostinho tão pouco como a ação de um espírito racional absoluto como afirmava Hegel e outros idealistas como Schelling, mas como resultados de uma infra-estrutura econômica, um exemplo: um professor de história explicando a pobreza na África, o professor materialista vai apontar como responsáveis o neocolonialismo do século XIX a exploração européia não só de escravos como de metais preciosos, não seria uma pré-destinação nem uma pobreza de espírito como veríamos em Hegel e Kant. 
A história materialista trazida por Marx tem uma compreensão de história bastante diferente e até oposta em relação aos positivistas por colocar como principal fundamento da história não a ciência como a redentora do mundo, o motor da história não era mais a razão idealista hegeliana, mas a luta de classes, no Manifesto do partido comunista 1848, escrito em parceria com Engels, está um dos pilares do materialismo histórico dialético “A história da humanidade em todos os tempos é a história da luta de classes” (MARX E ENGELS. 2004.pág.23). Uma análise marxista da história da história parte sempre do que Marx chamou de infra-estrutura, ou seja, as condições materiais, Para Marx essa infra-estrutura, ou base econômica de produção de riquezas, condiciona a ideologia, a política, o direito e a religião que seriam superestruturas da sociedade.
Para Marx o idealismo hegeliano havia trocado o céu pela terra, o filosofo entendiam que o idealismo de Hegel havia posto o homem em uma dimensão de consciência metafísica, onde o espírito era o ente, o ser se fazia na abstração, subjetividade, e a consciência criava o real, recriando um idealismo platonista, Marx procurava na obra a ideologia alemã deixar clara a sua posição com relação ao idealismo hegeliano:
 Pode-se distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião ou por tudo que se queira. No entanto eles próprios começam a se distinguir dos animais logo que começam a produzir seus meios de existência, e seu salto é condiciona por sua constituição corporal, ao produzirem seus meios de existência, os homens produzem indiretamente, sua própria existência material. (2005.pág.45)
É preciso sempre enfatizar que na concepção materialista está fundamentada na ideia que a vida humana não é determinada, para o marxismo a história não está acabada, as leis físicas positivistas de Comte e Durkhein que entendiam as relações de classes como historicamente imutáveis não servem, a história marxista é fundamentada no homem em meio às atividades produtivas, segundo Marx “A consciência nunca pode ser outra coisa que o ser consciente, e o ser dos homens é o seu processo de vida real. (...) não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência” (MARX E ENGELS. 2005.pag. 51e 52)
Marx também foi um duro crítico do capitalismo e aponta a necessidade da revolução socialista com a teoria da revolução proletária que pretende abolir a propriedade privada burguesa em substituição a uma comunidade socialista, no manifesto do partido comunista Marx falava sobre a tarefa revolucionária do operariado e da necessidade de uma luta que não ficasse apenas no campo do patriotismo, mas que fosse uma luta unificada do operariado mundial contra a dominação burguesa e vislumbrava esse processo revolucionário afirmando:
A supremacia do proletariado fará com que tais demarcações e antagonismos desapareçam ainda mais depressa. A nação comum do proletariado, pelos menos nos países civilizados, é uma das primeiras condições para sua emancipação. Suprimi a exploração do homem pelo homem e tereis suprimido a exploração de uma nação por outra, quando os antagonismos de classes, no interior das nações estiverem desaparecido, desaparecerá a hostilidade entre as próprias nações (2004 pág.44 e 45)

A história marxista para alguns historiadores e pensadores como Cyro Flamarion Cardoso pode se inserir em um paradigma mais amplo que seria o iluminismo, na medida em que propõe uma macro analise da sociedade, a partir das relações de produção, e que traz elementos típicos do pensamento iluminista como a ideia de redenção da humanidade a partir da revolução socialistas, e da noção presente no pensamento marxista de emancipação do homem (liberdade de fato) e igualdade que seria o próprio socialismo. 

Referência Bibliográficas 


LOWY, Michael. Ideologias e ciência social: elementos para uma análise marxista. 10 ed., SãoPaulo: Cortez, 1991.
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Trad. Maria José Como. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.
____________________________. A Ideologia Alemã. Trad. Luiz Cláudio da Costa e Silva. São Paulo: Martins Fontes 2002.

 

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