Arte e história

Seria muito pretensioso definir o que é arte, julgar se algo é mais ou menos arte, sendo obra humana parece uma postura arrogante mensurar o valor de qualquer que seja uma obra de arte, até porque se entende que a arte compõe o universo da cultura e mais ainda, que está intrinsecamente ligada à subjetividade, parece vir dos recantos mais íntimos e profundos do ser humano. Até por ser produto da cultura e estar inserida de forma definitiva nas sociedades, a arte se tornou sempre uma representação do seu tempo histórico, pois produção artística representa necessariamente um espelho de quem a produz, carregando cada minúcia, ideologia, moral, angústia e esperança que os homens de cada período da história vivenciaram, sejam o homem do neolítico superior, o servo do Egito, o escravo romano ou o homem medieval. A arte sempre pôde nos dar um apanágio do que foi e de como o homem de cada sociedade sentiu e pensou. Apesar de saber que arte não deve ser julgada, pois se trata de uma produção humana resultante das suas circunstâncias históricas, não faltam críticos pra afirmar que o modernismo é a morte da arte, mas cabe uma pergunta, de que arte? Os mais ortodoxos, presos a uma visão clássica-romântica de arte, enquanto domíneo de uma técnica apurada, capazes de criar imagens, sons e sensações maravilhosas, torcem o nariz para o dadaísmo, para a arte abstrata, modernismo e pós-modernismo. Há aqueles que dizem que o dadaísmo matou a arte, uma afirmação no mínimo autoritária, (porque definem e limitam o que é a arte a partir de uma preferência pessoal ou juízo de valor como diria Kant) a esses que se julgam os escribas da arte não lhes interessa o caráter revolucionário do dadaísmo, na medida em que é produzida a contra-pêlo da história da arte burguesa e elitista, com relação ao absurdo que alguns vêem nessa arte, bom, seria anacrônico pensar numa arte rococó numa sociedade veloz, destrutiva e pós-moderna como essa, onde os valores clássicos foram (felizmente) colocados no lixo pelo capitalismo. O que não se por negar, pois mais classicista que se seja é que arte pós-moderna, em todas as suas formas, poesia, pintura, cinema, dança, música e as demais expressões artísticas das cidades, dos guetos e tudo que produz arte na contemporaneidade representam bem a vida urbana, dinâmica, cibernética e totalmente nova que nós estamos vivendo. Um bom exemplo dessa coerência entre arte e contexto histórico social é o álbum dos tribalistas, arranjos simples, primitivista, tentando captar o irracional, sem pretensões e nem propósitos transcendais ou eruditos, afinal não vivemos na sociedade do romantismo nem da utopia, vivemos na sociedade do individualismo, da quebra de padrões e valores "eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo me quer bem" os tribalistas já não querem ter razão”, canta Marisa Monte numa verdadeira declaração relativista. Nem mais verdades extremas, sem o fardo do homem branco, sem arte popular nem erudita, apenas arte pulsando na artéria, apenas sentimentos e idéias essa é arte do tempo.

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