a crise de valores na atualidade


Nos últimos anos muito tem se falado na mídia, nas universidades, nas igrejas, nas famílias e nas rodas de amigos que a sociedade passa por uma crise de valores. As igrejas e os religiosos atribuem essa crise evidente à falta de Deus ou de espiritualidade, a mídia critica geralmente algo que não é a causa em si da crise dos valores, mas as conseqüências dessa crise como a corrupção e a violência; as universidades inseridas e corroídas por essa crise de valores éticos não consegue cumprir o papel de ser a vanguarda intelectual da sociedade e encontrar as soluções para os problemas que a realidade apresenta, ao invés disso vai se adaptando a um sistema putrefato onde a educação também virou produto.
            Essa crise de valores está longe de ser a consagração do super homem de Nietszche que consegue romper com os dogmas eclesiásticos e com uma moral repressiva que priva o homem de liberdade, esta também não é a crise dos hereges que transgrediam as regras católicas, essa crise não tem qualquer ligação com princípios e máximas transcendentes, se trata antes da introspecção e naturalização da lógica capitalista em todos os níveis da sociedade e da nossa vida cotidiana; Marx e Engels já alertavam no manifesto do partido comunista que o capital transformaria as relações familiares em meras relações monetárias. Com a total hegemonia do capitalismo e o advento da globalização no século XX os efeitos da lógica desumana do capital passaram a impregnar muito mais do que as relações familiares, contaminaram a nossa alma, os nossos sonhos, nos deixou uniformizados, reificados e “industrializados” como mais um produto.
            Em meio a essa “desumanização” ou “maquinização” do ser humano é importante refletir sobre a nossa verdadeira condição de humanos presos somente pela liberdade incondicional como diria o filósofo francês Jean Paul Sartre, é necessário conceber o homem e a mulher como seres dotados de liberdade e igualdade como afirmavam os iluministas Rousseau e Locke, esse processo de desumanização e de cooptação de nossa parte para o capital nos torna iguais a terrível família de Gregor Samsa, vivemos a crise da falta de fraternidade, perdemos a condição e o hábito de saber cuidar do outro como afirma o teólogo brasileiro Leonardo Boff, nos tornarmos cada vez mais parecidos com as terríveis e desumanas personagens de Kafka. È preciso lembrar das palavras de Lênin quando este afirmava: “O capitalismo morto apodrece, se decompõe entre nós, infectando o ar com seus vírus e envenenando nossa vida: o que é velho, podre e morto se agarra, com milhares de vínculos e ataduras, a tudo o que é novo, fresco e vivo".
            A hegemonia do capitalismo e as suas teorias pós-modernas tentam nos impor uma naturalização do modo de vida burguês e da ideologia dominante, conseguem nos fazer crer que a felicidade, a amizade, o afeto sincero e demais virtudes tipicamente humanas estão aliadas à idéia de consumo, nesse sentido a nossa felicidade seria determinada pelo mercado, as nossas amizades, amores também seriam condicionadas pela barganha capitalista. Essa talvez seja uma das ações mais desumanas e contra a nossa condição de livres da história humana, pois até a felicidade – que segundo Aristóteles estaria condicionada as virtudes éticas, as amizades verdadeiras e as virtudes dianoéticas, ou seja, a felicidade não poderia estar dependente de algo exterior ao ser humano – no capitalismo passou a ser sinônimo de consumo, status incentivado por um hedonismo viciado que só gera vontade de mais consumo e não vontade de potência humana. 
            Diante dessa crise de valores vale relembrar a pergunta clássica de Lênin, o que fazer? Que poderemos fazer, por exemplo, diante de uma crise que abalou a esquerda no mundo inteiro? O capitalismo só nos oferece como alternativa o pensamento único e o continuísmo da sociedade de classes, a democracia burguesa conseguiu se consolidar no grande alicerce do capital, legitimando na esfera política a primazia econômica da burguesia, os partidos de esquerda são cada vez mais atraídos pelas regalias do parlamento e pela a idéia nefasta e falaciosa da terceira via idealizada por Tony Blair e a Fundação Ford que prega o chamado capitalismo justo.
            O que nos resta então, além da certeza que a sociedade deve ser pautada no principio da igualdade e que esta, como diria Rousseau não pode existir enquanto subsistir a propriedade privada, é preciso a compreensão de que as mudanças necessárias para a construção de uma sociedade socialista não estão determinadas, tão pouco a história acabou como afirmam os pós-modernos; nós temos um dever histórico importante e inadiável: construir uma sociedade sem classes e isso só se faz com resistência, perseverança e a certeza de que como diria Heráclito tudo flui e se transforma sempre, a sociedade não é perfeita e imutável como querem nos fazer pensar os capitalistas defensores da ordem burguesa esquecendo e negando, inclusive, do seu papel revolucionário na França em 1789, é essa sociedade sem classes e sem exploração que vai na esteira de Walter Benjamin, redimir a humanidade e extinguir essa mediocridade de espírito capitalista que nos contamina a todos  a revolução nos permitirá parir uma nova sociedade livre, justa e emancipada onde devem prevalecer a liberdade e a individualidade.
                              

Comentários

  1. O capitalismo preza além do lucro a total decadência da instituição familiar e extinção de valores éticos. Parece que tudo o que a burguesia quer é o caos do mundo e só: que se roube e que se mate por lucro e status social; que é o que vem acontecendo e que vai continuar acontecer, até as pessoas acordarem pra triste realidade, e que se reacenda a chama da revolta nas pessoas.
    Se não nada nunca vai mudar até que essa ficha caia. Digo e repito novamente: o mundo não esse mar de rosas que a tv mostra.

    beijos

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